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domingo, 11 de março de 2012

uma sociedade

Na semana que se encerrou comemoramos mais um dia internacional das mulheres. Não cabe aqui mencionar os motivos que nos levaram a celebrar tal data. Enfim, exatamente no dia oito de março abri os “Contos Completos de Virginia Woolf”, linda edição da CosacNaify, e encontrei o trecho:

"... éramos cinco ou seis. Umas olhavam pela rua para as vitrines de uma chapelaria onde a luz ainda brilhava intensamente sobre plumas escarlates e chinelos dourados. Outras estavam ociosamente ocupadas em construir pequenas torres de açúcar na borda da bandeja de chá. Passados um tempo, pelo que eu lembro, juntamo-nos em volta do fogo e começamos a elogiar os homens, como de hábito - tão fortes, tão nobres, tão brilhantes, tão corajosos, tão belos - como invejávamos as que por bem ou por mal deram jeito de se ligar para sempre a um deles!"

É assim que começa o conto "Uma Sociedade". Ao retratar a década de dez, ele traz problemas ainda atuais para nós, mulheres tão emancipadas. Tão feministas. Tão empreendedoras. Sim, quando reunidas com as amigas, entre uma discussão e outra sobre o trabalho, a profissão e a bolsa de valores (ou seria outro tipo de bolsa?), sempre nos estendemos no top trends desses encontros: homens. De V. Woolf para cá, parece que pouco mudou. Mas o texto vai além. Ele questiona a capacidade intelectual masculina a partir da literatura. Uma delas, aos gritos, afirma que nem todos os livros são dignos de serem lidos. Ameaçadora, lê parágrafos de várias obras que encontrou durante sua peregrinação pela Biblioteca de Londres. Por exigência do pai, teria que ler todos os livros que lá encontrasse para ter direito à sua herança. Inclusive os muito ruins. Ao declamar algumas passagens, fez arder os ouvidos ali presentes. "Deve ter sido escrito por mulher", a mais preconceituosa alegou. Mas não. Todos foram escritos por homens.

"Se os homens escrevem porcarias assim, deveriam nossas mães ter perdido sua juventude para trazê-los ao mundo?", outras dizem ao lembrarem tudo o que suas matriarcas tiverem que deixar de lado para cuidarem dos maridos e filhos.

A partir daí, nasce um pacto. Entender o que se passa na cabeça deles. Até para ver se valia a pena tanto interesse. Munidas de perguntas, cadernetas e determinação, foram atrás dos homens nos navios de guerra, gabinetes, reuniões de negócios, concertos. Após cada jornada, reúnem-se para que as observações sejam comparadas. Estava criada uma sociedade com o objetivo de questionar tudo o que era feito, construído e dito pelo sexo masculino. Pretendiam "formar boas pessoas e produzir bons livros". Até que uma delas aparece grávida e a primeira guerra é anunciada. Não fica bem claro qual notícia foi mais bombástica. O que fica é que quanto mais questionavam e quanto mais respostas obtinham, menos doce ficava o mundo e mais fúteis os homens.

Se eles têm tanto poder é porque “fomos nós que os criamos e nutrimos e mantivemos em conforto desde o começo dos tempos para que eles pudessem ser inteligentes.”

Conclusão: melhor não questionar tanto se queremos ser apenas felizes. Será?


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