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domingo, 4 de março de 2012

tapete mágico

O primeiro romance que li contava as peripécias de um tapete mágico. Nem me perguntem o título ou autor porque não lembro. Entretanto, adquiriu grande importância. Não era tão 'pequeno'. Tinha 'várias páginas e muito texto'. E foi escolhido durante uma das aulas de leitura do ensino fundamental, quando eu tinha sete ou oito anos.

Elas eram dadas pelo professor Galhardo uma vez por semana, de modo que levei um mês, acredito, para terminar aquela obra. A metodologia que utilizava era mais ou menos assim: numa mesa distribuía vários exemplares da literatura infantil. Então, éramos incentivados a circular e encontrar algo que nos chamasse a atenção.

Escolhi o tapete mágico. Nas aulas seguintes, enquanto as outras crianças folheavam os livros mais ilustrados e namoravam as capas mais coloridas, meus olhos buscavam 'minha história'.

Aladdin com o famoso tapete mágico

Já com onze anos, fui apresentada pelo mesmo professor ao Erico Verissimo e ao fabuloso "Música ao Longe". Que personagem adorável, romântica e linda era a Clarissa! Eu queria ser como ela. Escrever num diário, ter meus alunos, ler poesias e apaixonar-me por um rebelde de bom coração como o Vasco, Gato-do-Mato. Devorei o livro, que ainda é o meu favorito, num único suspiro pré-adolescente.

"Professor, tem outro livro como este?" "Sim." E saí da sala de leitura, como era chamada nossa biblioteca, com "Clarissa". Lá encontrei a adolescência da minha protagonista querida. Sua vida na pensão da Tia Zina e a relação com os outros hóspedes, em especial Amaro, o músico solitário e calado. Sua tristeza por ter perdido o amigo Tonico. O carinho pelo peixinho Pirolito. Suas travessuras mínimas. Seus doces passeios. As conjecturas típicas de uma garota inquieta. Pronto, não tinha como não querer mais.

"Tem outro, professor?" Na verdade, o que eu queria era continuar lendo sobre ela, sobre Vasco. Felizmente, ele não me deu "Um Lugar ao Sol", a sequência que eu tanto esperava, e que li mais de uma década depois. Eu não estaria preparada para descobrir o quanto custa alcançar um sonho e lidar com os 'problemas dos adultos'. Obviamente, eu também não me preocupava com o contexto social e as possíveis denúncias de Verissimo em seus romances. O que me encantava era o lirismo dos textos, apenas. Naquele dia, levei para casa "Olhai os Lírios do Campo". Coitada da Olívia, eu pensava. E chorava. “Tem mais?”

Agradeço imensamente ao mestre. Provavelmente, ele nem se recorda do tapete voador que me deu, transporte para inúmeras viagens literárias. Espero, de coração, que outros alunos continuem a ter o mesmo privilégio.



2 comentários:

  1. Nossa, Kátia! Eu queria muito namorar Clarissa! Foi uma das minhas primeiras leituras. Olhai os Lírios do Campo, meu pai tinha em capa dura, ruim de ler, e eu não entendia direito aquelas intervenções fora da linha normal de tempo, pois era ainda muito criança. Mas Érico Veríssimo me marcou demais, e Amaro foi alguém com quem me identifiquei desde aquela época. Incrível, se pensarmos na nossa diferença de idade. Bj

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    1. Uma boa obra literária é totalmente atemporal. O livro foi escrito na década de trinta. Mas para mim é tão atual. Fico feliz por saber que esses livros também foram importantes para você.

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