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domingo, 15 de janeiro de 2012

a casa de papel

“E não encontro uma felicidade maior do que percorrer, em poucas horas diárias, um tempo humano que de outro modo me seria alheio.”

Não sei quantos livros tenho. Mas posso afirmar que a quantidade é ínfima se comparada à biblioteca formada por Carlos Brauer. Ao longo de sua vida, estima-se que tenha acumulado, arredondando, 19 mil volumes, entre obras raríssimas – que chegam a ser avaliadas em até 20 mil dólares cada – enciclopédias, dicionários, relatos de viagens e toda a sorte da literatura mundial.

Sua casa tinha livros até no banheiro. Para preservá-los, utilizava somente água fria para banhar-se. Seja verão ou inverno. Estamos no Uruguai e sua história é contada por outras vozes, todas ligadas pelo vício da leitura. Brauer não aparece realmente na narrativa. É um personagem pelo qual todos os demais nutrem extrema curiosidade, pena, pavor. Como se sua simples menção pudesse destruir suas próprias coleções.

O fascínio por sua vida é reanimado quando uma professora inglesa morre atropelada lendo versos de Emily Dickinson. Pouco depois, um exemplar de “A Linha da Sombra”, de Joseph Conrad, é deixado envolto em cimento na sala de seu possível substituto.

“A Casa de Papel”, de Carlos María Domínguez, escritor argentino radicado no Uruguai, fala sobre a paixão por livros, mais que isso, sobre a obsessão em acumulá-los e em tê-los sempre por perto. Após cinco anos, resolvi relê-lo instigada pelo artigo, publicado na Veja de 11/01/2012, do economista Claudio de Moura Castro, que comenta a falta de estantes para livros no Brasil, alusão aos poucos leitores no País. A mesma dificuldade em manter seus livros encontra Brauer, mas por motivos diferentes.

Nos diálogos de “A Casa de Papel” aprendemos como os livros podem ser lidos. Seja observando seus corredores – ruas verticais e diagonais formadas pelas separações das palavras. Seja saboreando-os ao som ou sob a luz de sua época, como um dos personagens: “eu desfruto ler Goethe enquanto uma ópera de Wagner toca no aparelho de som ou, digamos, acompanhar Baudelaire com Debussy.” Seja fazendo ferozes anotações em cada página lida. Seja mantendo suas folhas intactas. Aprendemos, ainda, as infinitas formas de afinidades entre as obras. Razão que pode ter levado à loucura Carlos Brauer.

A história é sedutora e você pode encontrar o desfecho em menos de uma hora. São poucas páginas e muitas informações que ratificam que os livros podem mudar sonhos, pessoas, navegações. O mar era a metáfora utilizada por Conrad em muitos de seus textos. E foi à beira-mar que Brauer encontrou o refúgio extraordinário para seu acervo literário. Imperdível.

Um comentário:

  1. Oi, Kátia - moro em Chapadão do Sul - MS e também adoro livros, só não gosto muito de animais - tenho um blog chamado www.zimmernews.blogspot.com - juntamente com a minha filha. Visite-o e dê sua opinião, o teu está muito bom, parabéns - meu nome é Evidio Zimmer

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